Olhando para os comentários gerais dos últimos meses, e até, dois últimos anos, a ideia que transparece é que nunca nos últimos talvez 15 anos tivemos uma seleção tão fraca. Os argumentos são vários, que vão desde a falta de um verdadeiro 10, até à inexistência de um ponta de lança realmente bom. Argumentos válidos. No entanto, o argumento mais usado nos últimos tempos é a péssima campanha de qualificação para o Mundial de 2014, que nos vai obrigar a um play-off.
Pois bem, fui fazer uma pequena pesquisa das campanhas de qualificação de todos os torneios onde a nossa seleção participou desde 2004, tendo recolhido os seguintes dados:
Mundial 2014
qualificação: Portugal 2º (Rússia 1º) 5V3E1D (falta a jornada de hoje)
Euro 2012
qualificação: Portugal 2º (dinamarca 1º) 5V1E2D
fase final: Meia Final
Mundial 2010
qualificação: Portugal 2º (dinamarca 1º) 5V4E1D
fase final: Oitavos de final
Euro 2008
qualificação: Portugal 2º (polónia 1º) 7V6E1D
fase final: Quartos de final
Mundial 2006
qualificação: Portugal 1º (eslováquia 2º) 9V3E1D
fase final: Meia Final - 4º Lugar
Vendo a nossa estatística, chegamos a algumas conclusões interessantes. Primeiro, esta seleção "fraca" como muitos apelidam é a mesma que era apelidade de fraca há dois anos, e que mesmo assim apenas foi eliminada pela campeã do mundo e da Europa nas meias finais. Esta seleção "fraca" continua na senda de algo que antes de 1996 apenas era conseguido muito raramente: qualificar-se para as fases finais. Desde 2000 que Portugal não falha uma única fase final. Esta seleção "fraca" está a conseguir o mesmo que todas as seleções anteriores fizeram, à exceção de 2006: ficar em 2º no seu grupo de qualificação.
Sendo assim, e apesar de concordar que faltam alguns jogadores de qualidade para certas posições, considerar a seleção fraca apenas porque fez uma qualificação abaixo das expetativas não é muito correto. Até porque, historicamente, as nossas seleções têm a tendência de apenas mostrar as suas capacidades em situações de pressão, especialmente nas fases finais, ou quando a corda está na garganta. Mesmo esta qualificação, para o play-off, a dada altura tão tremida, acabou por ser tranquila. E quando ficou certo que essa qualificação era certa, e a qualificação direta nem por isso, é que voltaram os erros e a lentidão de processos e de motivação.
Por acaso lembram-se na última década uma qualificação que tenha deixado os portugueses muito contentes? Talvez uma. Razão tinha Scolari para perguntar se o burro era ele... Quando vierem os jogos a sério, aí veremos se a nossa seleção é assim tão fraca!
PS: Nada do que disse atrás invalida que o trabalho na formação em Portugal esteja aquém do que era há uns anos atrás, quando tudo isto se iniciou com a chamada geração de ouro. Alguma coisa tem de ser feita para que a seleção não comece a ter apenas jogadores como Ruben Micael como titulares.