Vale a pena ler pelos benfiquistas, simplesmente para mostrar quem nem todos os sportinguistas são aqueles submissos ao Porto que estamos acostumados a ver. E vale a pena ler por muitos sportinguistas, que vão negar, mas no fundo sabem que isto é totalmente verdade... E antes de lerem, apenas recordar uma pequena história. Sábado à noite vi o jogo na margem sul, num café com mais de 50 pessoas, onde havia 2 ou 3 portistas. Quando o Porto marcou o segundo golo, a explosão de alegria foi tão grande, que só depois me apercebi que tinham sido os sportinguistas a gritar...
Este texto foi escrito por um sportinguista, num fórum do Sporting (
forumscp.com).
Hoje atingimos a pior classificação de sempre na nossa história. Para
além de termos ficado fora das competições europeias, conseguimos a
proeza de não figurar, sequer, entre os sete primeiros lugares da tabela
classificativa a uma escassa jornada do final deste campeonato.
No
entanto, mais do que carpir as mágoas e pensar no futuro, os
sportinguistas parecem preocupar-se essencialmente com o facto do
Benfica aparentar ter perdido tudo na recta final do campeonato. E a
situação torna-se mais caricaturesca quando temos a percepção que o
percurso do Benfica, por terras lusas e estrangeiras, foi marcado por
inúmeras vitórias e presenças em finais. Ou seja, o Benfica não tem
razões para ser enxovalhado: fez uma época absolutamente excepcional.
Pelo
contrário, nós fizemos a pior época de sempre. Se o Benfica tem razões
para se sentir envergonhado, então no nosso caso não há outra solução
senão efectuarmos um lento hara-kiri com uma espada de madeira. Não
temos absolutamente nenhuma moral para apontar o dedo e gozar como um
menino traquinas da primária.
É verdade que o Benfica é o clube
mais arrogante de Portugal. É verdade que, na zona de Lisboa, o ar
torna-se mais irrespirável a cada vitória benfiquista. O asfalto cede e
cada passo representa um esforço hercúleo directamente proporcional à
quantidade de benfiquistas que nos rodeiam dada a quantidade de soberba
presente na verborreia que proferem.
Porém, os sportinguistas do
Porto sentem exactamente o mesmo. E mais: têm razões para este
sentimento que vão muito para além de uma rivalidade histórica. Têm
razões actuais, justificadas pela razão e pela realidade. O Porto, nas
últimas décadas, foi o verdadeiro rival do Sporting, roubando-nos
inúmeros jogadores e títulos. O Porto, no pior período da nossa história
- o actual - agiu como um abutre, vindo comer a carcaça gasta do leão
para encontrar no interior do nosso estômago jogadores como Moutinho e
Izmailov. O Porto contratou um avançado sem joelhos apenas para nos
atingir onde mais dói: no orgulho e história.
Para além disso, o
Porto tem sido um exemplo de incorrecção futebolística. Os casos são
vários e documentados no maior arquivo de vídeos da humanidade. Qualquer
pessoa pode aceder e ver por si a narrativa abjecta dos últimos 20
anos, que muito nos prejudicou e contribuiu para o actual estado de
coisas.
Nesta senda do anti-benfiquismo acéfalo, quero também
relembrar uma coisa: o único clube que ficaria verdadeiramente a ganhar
com o desaparecimento do Sporting é o Porto. O futebol tornar-se-ia
bipolarizado e seria uma guerra entre Norte e Sul, como Pinto da Costa
tentou sempre que fosse. E mais: os adeptos do Sporting, rejeitando o
vermelho, iriam sempre torcer pelo Porto. Talvez até os filhos fossem
portistas.
Posto
isto, hoje senti vergonha de vários adeptos serem do mesmo clube que eu.
Senti vergonha de festejarem a vitória do clube que, nos últimos trinta
anos, mais mal nos fez. Senti vergonha de não sentirem vergonha pelo
afastamento da Europa, que levou a terem a capacidade de enxovalhar o
Benfica numa época como esta, dando-lhe uma importância que não tem (ou
que não deveria ter).
Se queremos ser grandes, temos que pensar
como grandes. E hoje pensámos como adeptos de um clube pequeno, satélite
do Norte, festejando o campeonato de um rival em detrimento de outro.
O
anti-benfiquismo, hoje, tornou-se mais importante que o Sporting. Um
dia que nunca mais irei esquecer e dos mais negros da nossa história
recente.